terça-feira, 29 de maio de 2007

Delinquência Juvenil

Delinquência juvenil sobe com sobrelotação e pobreza urbanas

( autora da notícia: Alexandra Marques – Jornal de Notícias de 23.04.07 )

Investigador diz que um quinto da população do Porto vive já num bairro social, alertando para explosão das cinturas metropolitanas

Situação dos jovens urbanos pobres começa a assemelhar-se a França, onde são mais de 230 mil




O esvaziamento populacional de Lisboa e do Porto e a sobrelotação dos maiores concelhos das duas Áreas Metropolitanas, associado às bolsas de pobreza concentradas nos bairros sociais, são os factores mais propiciadores da delinquência juvenil urbana.
Estima-se que, em 2011, Sintra terá uma densidade demográfica superior à da capital e o mesmo acontecerá entre Gaia e o Porto, onde um quinto da população - um em cada cinco habitantes - vive em bairros camarários.
Estes dados foram anunciados em Lisboa, sábado, por José Luís Fernandes, director do Centro de Estudos do Comportamento Desviante, da Universidade do Porto, antes do encerramento de um colóquio sobre "direitos da criança e dos jovens", promovido pelo Centro de Estudos Judiciários (CEJ) e o Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA).
O investigador salientou que o Porto é, das urbes nacionais, onde a exclusão social mais supera (em larga escala) o número de focos residenciais mais ricos, tendo 40 bairros sociais, num total de 40 mil habitantes, sem que haja equivalência com o estrato social mais favorecido.
A transferência para as áreas suburbanas das metrópoles e os bairros sociais segregados nas mesmas é a causa do crescente número de jovens urbanos pobres - designação oriunda do Brasil -, a maioria dos quais se encontra em situação moratória.
Interiorização do risco

Estar em moratória significa que estes jovens - entre os 12 e os 16 anos - deixaram de estudar, não têm uma família funcional, não lhes é dado emprego porque não têm qualificações e ocupam os dias em actos de marginalidade e delinquência. Nos 700 bairros das Zonas Urbanas Sensíveis, de França, são mais de 230 mil os que, dos 15 aos 25 anos, vivem nestas condições.
Recusando a ideia de que "a cidade está a guetizar-se ou ganguizar-se", como nos EUA, este docente atribui à deslocalização industrial, os casos de desemprego massivo e cenários de miséria que levam a sociedade a rotular estes jovens como vítimas.

"São vítimas do sistema, mas tornam -se visíveis na sociedade como agressores", por isso "são a imagem predatória da cidade que passa a ser vista como um território de risco", realçou.
Depois de recordar os casos da Cova da Moura, dos assaltos na CREL, do "pseudo-arrastão" no Estoril e o ataque a Gisberta, este investigador explicou que existe já "uma interiorização do risco" por parte do cidadão comum. Um sentimento que comparou ao risco de um acidente rodoviário. Mesmo tomando precauções, o automobilista sabe que não está livre de ser envolvido num.

Realidades

Só 15% dos habitantes da AML vive em Lisboa

A actual população residente nas 53 freguesias do município lisboeta representa apenas 15% do total demográfico de toda a Área Metropolitana de Lisboa (AML).
Bairros sociais do Porto e "a escala da infâmia"

Para José Luís Fernandes, os moradores dos bairros sociais do Porto evitam dizer onde residem porque há um estigma. E justificam que há pior. Quem vive na Pasteleira diz que pior é o Aleixo. Aqui é dito que mau é o bairro S. João de Deus. Só resta apontar onde vivem os ciganos e, no fundo "da escala da infâmia", onde os toxicodependentes, alguns dos quais com Sida, se injectam.
As armas dos Gunas do Porto são as "fusgantes"

Os jovens problemáticos da Área Metropolitana do Porto (AMP) são conhecidos pelos "gunas". Um vídeo sobre uma claque de futebol exibido pelo investigador portuense, alude a ter um brinco na orelha e uma "fusgante" (revólver) na mão. Uma das frases (conotadas com o sentimento de pertença do grupo) diz "Quem entra não sai/Quem vacila, cai".

Correr riscos para incutir respeito ou receio


Os jovens urbanos pobres vivem numa realidade de carências e ausências afectivas, escolares, familiares, de valores e de dinheiro. Numa sociedade em que supostamente há o direito à igualdade, não há igualitarismo. Como não têm nada, a única maneira de se evidenciarem, de se fazerem notar, é correndo riscos.
"Às vezes, o risco é assumido para ganharem uma imagem que infunde respeito ou receio nos outros", disse, sábado, José Luís Fernandes, da universidade do Porto, orador convidado do colóquio promovido pelo CEJ e pelo ISPA (ler texto em cima).
Estes jovens - muitos deles ainda adolescentes - sabem que andar com uma arma no bolso, vender droga na rua ao serviço de um "dealer" (traficante), fazer o furto de lojas ou por esticão, os faz serem mais respeitados pelos amigos e a namorada. E infunde nos outros sentimentos de medo.
Existe ainda outra vertente a desvalorização da noção de perigo. "Constroem uma ideia mítica da sua imunidade", explicou. Crêem que nunca serão apanhados pela Polícia. E quando alguém lhes diz que com essa via não chegam aos 30 anos, respondem que mais vale ser rei um dia que escravo toda a vida.

O desafio à ordem e ao perigo leva-os, segundo o investigador, a pendurarem-se de cabeça para baixo nos viadutos para os grafitar ou a roubarem um automóvel "para dar baile à bófia".
O "surf" ferroviário praticado por jovens problemáticos no Rio de Janeiro ilustra, de forma radical, este fenómeno. Sobem para os tejadilhos dos comboios que saem dos subúrbios com destino a Ipanema ou Copacabana, e vão em cima das carruagens fazendo piruetas e acrobacias. Uns caem, outros morrem fulminados ao embater nas catenárias ou são abatidos pela Polícia, porque ameaçam a segurança pública. E por isso, a taxa de mortes juvenis neste estado brasileiro é semelhante às de Israel ou do Iraque.

1 comentário:

  1. DEPOIS DE CAMINHAR ...JÁ ALGUMAS HORAS POR ESTE CANTINHO DO CONHECIMENTO...pergunto-me se será tão dificil as pessoas consciencializarem-se da verdadeira realidade...pode ser o desafio do perigo...que estimula os jovens a desencadearem actos que os prejudica, bem como à sua comunidade que somos todos nós aldeia global...mas não creio ser só essa a motivação...creio que estão cansados de esperarem...por virtuosas esperanças que não passam de brumas que desaparecem num dia de calor...

    Os jovens teimam em desafiar o perigo...acreditam que ele ...ao menos ele não é previsivel...dele se pode esperar algo de novo...ou o bom...ou o mau...mas algo intángivel...

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