O Novo Acordo
Ortográfico
Com o novo
acordo ortográfico, alterar-se-á a forma de escrever (não a de falar), ficando
as diferenças entre os diversos países de língua portuguesa circunscritas a 2%.
Trata-se
de reconhecer que a língua portuguesa é uma língua universal, de uma comunidade
que se quer afirmar, neste contexto particular, como una, e não apenas dos
portugueses. Assim, existirão vários casos de dupla grafia.
Por
outro lado, reconhece-se que a língua evoluiu e que, por força dessa evolução,
há palavras que passaram a ser ditas de duas maneiras, que passarão ambas a ser
legítimas.
À
eliminação das consoantes mudas não corresponderá a criação de um acento, para
indicar que é essa a sílaba tónica, porque ou se retira o som da palavra do
contexto da frase (cf. Para) ou então não existe outra pronúncia possível (cf.
Fratura).
Eis uma resenha das alterações mais importantes:
I- Introdução das letras k, y e w
no alfabeto português;
II- Passam a escrever-se com
inicial minúscula:
a) Os meses do ano (ex: dezembro,
fevereiro, etc.);
b) Os pontos cardeais e
colaterais (ex: norte, sul, este, oeste, sudoeste, etc.), mantendo-se, no
entanto, inicial maiúscula nas abreviaturas dos pontos cardeais e colaterais,
assim como na designação de regiões com os mesmos pontos:
-“O avião virou-se para N.”;
-“O Sul está em festa”;
c) As palavras «fulano»,
«beltrano» e «sicrano», salvo se no início de uma frase;
III- Emprego opcional de
maiúscula ou minúscula em início de palavra nos seguintes casos:
a) Títulos de livros ou obras
equiparadas (biblionóminos) devendo o primeiro elemento ser sempre grafado com
maiúscula inicial, assim como os nomes próprios aí existentes.
Exemplos:
-As Pupilas do Senhor Reitor ou
As pupilas do senhor reitor;
-A Ilustre Casa de Ramires ou A
ilustre casa de Ramires;
b) Formas de tratamento,
expressões que exprimem reverência, hierarquia, cortesia:
-Senhor Professor ou senhor
professor;
-”...o Exmo. Sr. Procurador da
República” ou “...o exmo. sr. procurador da república”;
-Vossa Santidade ou vossa
santidade;
Segundo o Prontuário da Língua
Portuguesa editado pela Escolar Editora, a letra maiúscula inicial é usada em
siglas, símbolos ou abreviaturas – exemplos: APAV (Associação Portuguesa de
Apoio à Vítima), GW (gigawatt), V. Ex.ª (Vossa Excelência).
c) Nomes que designam domínios do
saber, cursos e disciplinas escolares:
-Português ou português;
-Matemática ou matemática;
-Direito ou direito;
d) Logradouros públicos, templos
ou edifícios.
Exemplos:
-Avenida da Liberdade ou avenida
da liberdade;
-Rua 25 de Abril ou rua 25 de
abril;
-Torre dos Clérigos ou torre dos
clérigos;
IV-Supressão de consoantes mudas
ou não articuladas:
CC
(abstracionismo, acionamento,
colecionador, confecionar, direcional, fracionar, lecionar, protecional,
seleção, selecionamento, transacionado)
(nos casos em que a consoante se
articula esta mantém-se: faccioso, ficcional, friccionar, perfeccionismo, etc.)
CÇ
(ação, coleção, contração,
correção, deteção, direção, distração, ejeção, ereção, extração, fração,
infração, injeção, objeção, projeção, proteção, reação, seleção )
(mantém-se a consoante em:
convicção, evicção, ficção, fricção, sucção, etc.)
CT
(ata – cf. ata de audiência de
julgamento -, ativar, ator, atriz, atual, adjetivo, afeto, arquitetura, coletivo,
correto, defetivo, detetar, dialeto, direto, diretor, elétrico, espetáculo,
exatamente, coletivo, letivo, objetivo, objeto, projeto, refletir, teto)
(mantém-se a consoante em:
bactéria, compacto, convicto, facto, intelectual, invicta, lácteo, néctar,
noctívago, octógono, octogésimo, pacto, pictórico, etc.)
PC
(anticoncecional, dececionante,
excecional, percecionismo, rececionista)
(mantém-se a consoante em:
capcioso, egípcio, núpcias, opcional, etc.)
PÇ
(aceção, adoção, conceção,
deceção, interceção, receção)
(mantém-se a consoante em:
corrupção, erupção, opção, interrupção, etc.)
PT
(Egito, adotar, batismo, ótimo,
otimismo)
(mantém-se a consoante em:
adepto, apto, eucalipto, inepto, rapto, septuagésimo, etc.)
Quando a palavra contem as
consoantes mudas “pt” precedidas de “m” (“mpt”), desaparecendo o “p” (consoante
muda), o “m” transforma-se em “n”, porque vem antes de “t”.
V- Perdem o acento: creem, deem,
leem, veem, descreem, desdeem, releem e reveem.
Mantém o acento "têm" e
“vêm”.
VI- Não se diferenciam:
para (flexão de parar, que hoje
se escreve pára) / e para (preposição) – a diferença alcança-se pelo sentido da
frase, não se acentuando a flexão de parar referida por ser uma palavra grave;
pela(s) (é) – substantivo e
flexão de pelar / e pela(s) (combinação de per e la(s) );
pelo(é)/pelo(s);
polo(s)/polo(s) (combinação
antiga);
coa(s)(ô)/coa(s) ( combinação de
com e a );
pera(e)/pera ( preposição
arcaica); e
pero(ê)/pero (preposição arcaica
).
VII- Mantém-se o acento
circunflexo em:
-pôde; e
-pôr.
VIII- Perdem o acento as palavras
graves ( cf. são as que tem a sílaba tónica na penúltima sílaba; são palavras
agudas as que têm a sílaba tónica na última sílaba - ex: li+mão - e palavras
esdrúxulas as que têm a sílaba tónica na antepenúltima sílaba - ex: ár+vo+re )
com o ditongo "oi" na sílaba tónica:
Exemplos:
-heroico;
-asteroide;
-jiboia;
-joia;
-espermatozoide;
-lambisgoia.
Já hoje não têm acento as
palavras:
-comboio; e
-dezoito.
IX- Quanto ao hífen:
a) VOGAL + R ou S= unem-se e
duplica-se o R ou o S
Exemplos:
-autorrádio (e não
auto-rádio);-minissaia (e não mini-saia);
-intrassubjetivo;
-suprarreferido (e não
supra-referido)
-suprassumariado (e não
supra-sumariado)
-ultrarradical;
-ultrassensível;
-ultrassónico; e
-ultrassofisticado.
Na regra anterior ao AO o prefixo
supra ligava-se por hífen ao elemento seguinte quando este começa por h, r, s
ou vogal - exemplos:
- supra-referido,
supra-sumariado, supra-exposto, etc.
Na regra anterior ao AO o prefixo
infra liga-se por hífen ao elemento seguinte quando este tem vida à parte e
começa por vogal, h, r ou s - exemplos: infra-axilar, infracitado,
infra-estrutura, infra-sublinhado,
etc.
Na regra anterior ao AO o prefixo
semi liga-se por hífen ao elemento seguinte quando este começa por h, i, r ou s
- exemplos: semipúblico, semicírculo; mas semi-recta, semi-inconsciente,
semi-sábio, etc.
b) VOGAL + VOGAL DIFERENTE=
unem-se:
-coautor (e não co-autor);
-antiaéreo (e não anti-aéreo);
-supraexposto (e não supra-exposto);
-supraidentificado.
c) VOGAL + VOGAL IGUAL= mantém-se
o hífen:
-micro-ondas;
-contra-almirante;
-supra-assinalado.
d) CO + O= unem-se:
-coobrigação;
-coocorrente.
-cooperação.
e) Como se escreverá
"bem-vindo" e "bem-humorado"? Da mesma maneira.
f) Mantém-se o hífen nas palavras
antecedidas de: ex-, pré-, bem-, pró-, não-, sem-, além-, aquém-, recém- e
pós-.
Exemplos: ex-presidiário,
pré-preparatório, pré-adoção, bem-estar, pós-datado, além-mar, aquém-mar,
sem-terra, recém-nascido e recém-casado.
g) Mantém-se o hífen com os
prefixos «hiper-», «inter-» e «super-» quando combinados com elementos
iniciados em r.
Exemplos: hiper-realista,
hiper-requintado, inter-relação, super-resistente inter-regional,
inter-racial, super-reacionário,
super-romântico, mas intersubjetivo.
h) O hífen mantém-se nas palavras
prefixadas quando a palavra base começa com "h" (exemplos:
anti-higiénico, anti-helénico, anti-herói, anti-histórico, co-herdeiro,
macro-história, mini-hotel, proto-história, sobre-humano, super-homem e
ultra-humano).
i) O hífen mantém-se quando a
última letra do prefixo é igual à primeira letra da palavra seguinte (ex:
contra-ataque), exceto quando o prefixo é "co-" (ex: cooperação).
E ainda quando o prefixo termina
em consoante, se o segundo elemento começar pela mesma consoante.
Exemplo: sub-bibliotecário.
j) Em palavras com o prefixo
«sub», usa-se hífen diante das palavras iniciadas por «r» (cf. Acordo
Ortográfico, Lúcia Vaz Pedro, Euro Impala, pág. 28):
Exemplos:
-sub-região;
-sub-reptício;
-sub-rogar;
-sub-raça.
l) Mantém-se o hífen nas palavras
compostas que designam espécies na área da botânica e da zoologia:
-abóbora-menina;
-couve-flor;
-cobra-capelo;
-ervilha-de-cheiro;
m) Mantém-se o hífen em palavras
compostas:
Exemplos:
-guarda-redes;
-avançado-centro;
-cabo-verdiano ou cabo-verdense (mas:
Cabo Verde);
-diretor-geral;
-mestre-de-cerimónias;
-inspetor-geral;
-inspetor-adjunto;
-inspetor-coordenador;
-inspetor-orientador;
-eletrão-volt;
-diretor-desportivo;
-diretor-executivo;
-direção-regional;
-conta-quilómetros;
-bolo-mármore;
-anglo-saxónico;
-água-de-colónia;
-ator-encenador;
-técnico-tático;
-ténis-de-mesa;
-técnico de justiça-adjunto (mas:
técnico de justiça auxiliar);
-escrivã-auxiliar (mas: escrivã de
direito); e
-x-ato.
n) Perde-se o hífen em HAVER com
DE:
-Hás de;
-Heis de;
-Hei de;
-Hão de.
X- Dupla grafia ( porque os
falantes usam uma ou outra versão):
-característica/caraterística;
-dactilografia/datilografia;
-sector/setor;
-intersecção/interseção;
-infectar/infetar;
-infeccioso/infecioso;
-reactância/reatância;
XI- Co-existência ( no futuro, ou
melhor, "coexistência" ) –
a) Norma lusoafricana/norma
brasileira:
-facto/fato(Brasil);
-contactar/contatar(Brasil);
-defetivo/defectivo(Brasil);
-olfacto/olfato(Brasil);
-olfactivo/olfativo(Brasil);
-caraté/caratê(Brasil);
-bebé/bebê(Brasil);
-puré/purê(Brasil);
-matiné/matinê(Brasil);
-andámos/andamos(Brasil);
-dêmos/demos(Brasil).
Anote ainda:
A) Nova regra no BRASIL:o hiato
'oo' não é mais acentuado:
- Regra antiga no BRASIL : enjôo,
vôo, corôo, perdôo, côo, môo, abençôo, povôo;
- Nova regra no Brasil e que já
vigorava entre nós: enjoo, voo, coroo, perdoo, coo, moo, abençoo, povoo.
B) Nova Regra: deixa de existir o
acento diferencial em palavras homógrafas, como se disse acima:
- Regra antiga: pára (verbo),
péla (substantivo e verbo), pêlo (substantivo), pêra (substantivo), péra (substantivo),
pólo (substantivo);
- Como será: para (verbo), pela
(substantivo e verbo), pelo (substantivo), pera (substantivo), pera
(substantivo), polo (substantivo).
C) Nova Regra: não se usa o hífen
em palavras compostas em que, pelo uso, se perdeu a noção de composição:
- Regra antiga: manda-chuva,
pára-quedas, pára-quedista, pára-lamas, pára-brisa, pára-choque, pára-vento,
pára-raios.
- Como será: manda-chuva, paraquedas ou para-quedas, paraquedista, para-lamas, para-brisas,
para-choques, para-vento, para-raios.
D) Deixa de existir o hífen:
• Em locuções de qualquer tipo
(substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas ou
conjuncionais): cão de guarda, fim de semana, café com leite, pão de mel, sala
de jantar, cartão de visita, cor de vinho, à vontade, abaixo de, acerca de, a
par de, nós mesmos, a fim de que, por conseguinte, logo que, ele próprio,
abaixo de, etc.
• Exceções: água-de-colónia,
arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao-deus-dará, à
queima-roupa.
E) Continua a escrever-se "Carácter"; mas passa a admitir-se
“Caráter”;
F)Escrevem-se com maiúscula:
Natal, Carnaval, Páscoa e Ramadão;
G) Passa a ser obrigatória, na
mudança de linha, a aposição de novo hífen, em palavras compostas. Assim, a
título de exemplo, escreve-se "sargento-" + "-mor" (na
linha seguinte);
H) Continuamos a escrever: têm,
vêm, detêm, entretêm, mantêm, pôde, forma (cf. forma para bolos; em forma
física), cânon, âmbar, bênção, dândi, ânus, avozinha, mazinha, zezito, pezito,
zezinha, etc.;
I) O novo acordo permite que nos
verbos regulares da primeira conjugação seja facultativo o uso do acento para
distinguir o pretérito perfeito do presente do indicativo na primeira pessoa do
plural (cantámos – cantamos). No Brasil não se faz esta distinção, não se
colocando acento em ambos os casos.
J) Não esquecer que os advérbios
de modo não levam acento: facilmente, rapidamente, somente;
L) Apenas é utilizado acento
grave (`) nas seguintes palavras: à(s), àquele(s), àquela(s), àquilo,
àqueleoutro(s) e àqueloutra(s);
M) A divisão em sílabas de
assegurar, corroer, prorrogar, etc., faz-se da seguinte forma:
. as-se-gu-rar, cor-ro-er,
pror-ro-gar.
Divide-se «fluidez» e «ensaios»
da seguinte forma: flu+i+dez; en+sai+os.
N) Ordem de prioridade no uso de
aspas:
1.º) «»;
2.º) ""; e
3.º)''.
Assim e citando: «O João
disse-lhe que fosse ao "Cine" e ele respondeu dizendo 'yes!'.»
O) A letra maiúscula inicial é
usada:
- Nos nomes de festas e
festividades – exemplos: Natal, Páscoa, Todos os Santos.
Na internet encontra-se disponível um conversor ortográfico gratuito com o nome “Lince”, que pode ser descarregado no seguinte endereço:
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=lince
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